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Água de beber


Infelizmente, o que foi retratado de forma tão sensível por Cândido Portinari em sua obra prima "Retirantes", tende a se manter por mais algum tempo para os nordestinos e pode avançar para a região Sudeste.

Duas matérias da Folha de S. Paulo chamam a atenção neste início de 2018:

- uma em cada três represas no Nordeste está seca (acesse aqui)

- em São Paulo, o principal sistema de abastecimento (Cantareira) volta ao estado de alerta (acesse aqui)

Como já apresentamos em outra postagem neste mesmo Blog, as mudanças no clima estão provocando alterações significativas no regime de chuvas.

Segundo estudos do IPCC (sigla em inglês de Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas) e com análise sobre os impactos destas mudanças sobre o Brasil, as chuvas ficarão mais escassas no Nordeste e mais intensas no Sul e no Sudeste.

Vamos por partes, fazer uma análise por região, e já apontando caminhos para soluções consistentes:

1. Em relação à seca na região nordestina, é fundamental que avancem as políticas assistenciais e de garantia do fornecimento de água para a população que mora e vive no sertão, bem como sejam desenvolvidas tecnologias voltadas ao uso racional (sem perda ou com perda mínima) e ao reuso da

água, com prioridade para uso humano e dos animais.

O programa de construção de cisternas precisa alcançar a totalidade das comunidades sertanejas, de forma a que a população tenha condições de armazenar água nos períodos mais críticos, bem como de receber água em instalações adequadas.

Este programa deve estar atrelado ao de fornecimento de energia. Para tanto, o programa Luz para Todos deve ser retomado e realizado em bases sustentáveis. Por exemplo, viabilizar a implantação de unidades produtoras de energia renovável, como a energia solar (abundante na região).

Um dos principais problemas do Nordeste não é a falta de água, e sim, o desvio de recursos por meio da corrupção, como é o caso dos poços artesianos. Muitos projetos não foram implementados em razão do desvio dos recursos do governo federal.

Portanto, a conhecida imagem retratada por Portinari deverá se manter por muitos anos ainda.

2. Já em relação à situação de São Paulo, o problema é semelhante - de gestão. Nem é por falta de chuvas, mas sim, de garantir o manejo adequado dos recursos hídricos e dos sistemas de abastecimento de água.

Segundo os estudos do INPE, conjuntamente com o IPCC, as chuvas na região Sudeste serão mais intensas, mas, também, mais espaçadas.

Explicando melhor: haverá períodos mais longos sem chuva (mesmo no verão) e, quando chover, será em grandes volumes. Vai virar rotina aquele bordão dos repórteres: "Em duas ou três horas, choveu metade do que estava previsto para o mês inteiro!"

Ou seja, nada garante que estas chuvas torrenciais caiam sobre as represas e sobre os rios e córregos que formam estes reservatórios.

Portanto, algumas medidas devem ser adotadas - e com urgência:

- reduzir drasticamente os atuais índices de perda (vazamentos)

- incentivar e estimular o uso racional da água, combatendo o desperdício

- incentivar e estimular o reuso de água

- prevenir a contaminação dos mananciais de abastecimento

- recuperar mananciais estratégicos, como a represa Billings

Não são soluções simples, mas é preciso ter clareza das ações necessárias, planejamento, e gestão adequada e responsável sobre as águas e os recursos hídricos, acompanhando a evolução e os efeitos das mudanças do clima. Isso é o que não temos visto no governo federal nem no governo paulista.

Se continuar assim, não vai adiantar jogar a culpa em São Pedro...


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